O problema de saúde que inspirou a criação de um novo negócio

Por Fernanda Santos

Sabrina Kim, dona da loja de roupas Solenzara, desenvolveu um problema ortopédico de tanto andar a pé. A solução foi criar sua própria marca de sapatos

Mas, até começar a empreender, Sabrina teve de descobrir o que gostaria de fazer

empresaria-ensina-moda-para-mulheres-reais

A palavra inspiração nunca sai de moda para Sabrina Kim, 38 anos. Da decisão de cursar arquitetura, na Universidade de São Paulo (USP), até se transformar em empreendedora, dona da Solenzada, uma loja de roupas femininas, e da Sapatos da Sá, uma marca de calçados, Sabrina sempre utilizou as ideias que despontam no dia a dia para incrementar o seu processo criativo. Mas a paulistana, descendente de sul coreanos, custou a seguir o que o seu coração dizia.

Ela resistiu durante muito tempo em continuar em um mercado que conheceu ainda pequena. Aos 7 anos, Sabrina começou a trabalhar nas duas lojas de roupas da família e cresceu fazendo serviços de caixa, atendimento e sendo office girl. Ela conta que sempre gostou de trabalhar com roupas, mas não achava que essa seria sua profissão.

“Eu não queria fazer o que meus pais faziam, não pensava em ter uma loja. Queria algo criativo, como moda, arquitetura ou fotografia”, diz Sabrina, que virou dona do próprio negócio em 2007.

Curva de aprendizado

Até começar sua vida de dona, Sabrina passou por muitos encontros e desencontros. Em 2000, começou o curso de arquitetura, mas no meio da graduação percebeu que não estava feliz com a escolha. Ela pensou em desistir. Quem convenceu Sabrina a continuar foi uma professora do departamento de design, que sugeriu que ela fizesse algumas matérias na Escola de Comunicação e Artes (ECA) e persistisse mais um pouco.

Sabrina Kim, 38 anos, empreendedora

Se aproximar do universo das artes inspirou Sabrina, que decidiu aprender mais sobre moda, a antiga paixão. Ela buscou cursos de modelagem, aprendeu corte e costura e participou de alguns concursos do São Paulo Fashion Week (SPFW).

Em 2003, a carreira deu um passo à frente: Sabrina se inscreveu para um processo seletivo da editora Abril e foi chamada para trabalhar na revista Casa Cláudia. Na entrevista presencial, em vez de apresentar trabalhos de arquitetura, ela levou o portfólio de moda, que tinha graças aos concursos dos quais participou. “Quando viram, me direcionaram para o editorial da revista Manequim. Fiquei um ano como estagiária circulando por outras publicações da Abril, como Elle, Estilo e Capricho”, diz ela.

Nos anos seguintes, Sabrina passou por outra editora, formou-se e começou a trabalhar com merchandising em uma empresa do setor. Muito cansada e sem tirar férias há alguns anos, começou a entrar em crise com a profissão. Em 2005, decidiu pedir demissão do emprego.

“Eu sai da empresa onde trabalhava e me inscrevi para ganhar uma bolsa no curso de marketing de moda na Coreia do Sul. Achava que seria a solução dos meus problemas, mas, na verdade, era só um pretexto para fugir”, afirma ela.

Um "estágio" antes de empreender

Enquanto aguardava o resultado da bolsa, Sabrina decidiu aceitar o convite do pai para trabalhar nas lojas da família. Ele sugeriu que ela ficasse um tempo cuidando dos negócios e, caso não gostasse, poderia ir embora.

Pouco tempo depois, saiu o resultado do pedido de bolsa. “Eu consegui, mas decidi não ir para a Coreia do Sul. Depois de tanta volta, havia percebido que aquilo ali era o que eu queria da vida. Trabalhar com roupas”, afirma Sabrina, que ficou mais um ano com os pais, contribuindo com todo o conhecimento técnico que havia adquirido na faculdade.

Em 2007, Sabrina decidiu empreender e criou a Solenzara, uma loja de roupas femininas localizada na rua do Arouche, no centro da cidade de São Paulo. A empreendedora tinha boa parte do dinheiro para o investimento inicial, mas também contou com a ajuda e o apoio financeiro dos pais. “Eles me emprestaram dinheiro, mas no primeiro ano já paguei tudo”, diz ela.

O foco da Solenzara são roupas femininas casuais para diferentes gostos e idades. Sabrina costuma dizer que vende roupas para mulheres reais, que precisam andar à pé, pegar metrô e sair para ir ao mercado. “São mulheres que acham que estar na moda não é para elas. Mas eu mostro que é, sim”, afirma Sabrina.

Nos anos seguintes à abertura da empresa, a expansão da economia brasileira contribuiu com o crescimento da Solenzara. Com o negócio decolando, Sabrina decidiu abrir a segunda loja, também na região central da capital paulista. Os dois pontos continuaram bem até 2014, quando a crise econômica derrubou as vendas.

Uma dor fez nascer o segundo negócio

Naquele período, a situação estrutural do Brasil contribuiu com a queda no faturamento da Solenzara. Mas havia um outro motivo que levou Sabrina a repensar a sua vida empresarial: o desafio de conciliar a vida de mãe, esposa e dona do próprio negócio.

Os dois filhos da empresária, que hoje tem 6 e 9 anos, eram muito novos e demandavam bastante tempo e cuidado. “Eu ainda estava amamentando, e tinha de levar as crianças comigo para a loja e fazer serviço de banco com elas no colo. Era uma loucura”, diz Sabrina.

Em 2015, a jornada dupla, aliada à queda nas vendas, levou a empreendedora a fechar uma das lojas. A rotina ficou um pouco mais leve, o que abriu espaço para a criatividade da empreendedora. Em vez de descansar, ela teve a ideia de abrir um segundo negócio.

A inspiração para a loja online Sapatos da Sá surgiu de uma maneira um tanto inusitada. Quando Sabrina se casou e abriu a loja no centro da cidade, ela e o esposo decidir se mudar para perto do trabalho para ter mais qualidade de vida. Isso fez com que ela passasse a andar mais a pé e a deixasse o carro mais tempo na garagem. Os filhos nasceram e a empresária manteve a rotina, até desenvolver um problema ortopédico.

“Virei mãe, e continuava andando muito. Como nossas calçadas são horríveis, desenvolvi um problema no pé por causa do impacto, o que inspirou meu segundo negócio”, afirma a dona da marca Sapatos da Sá.

Um ortopedista recomentou que ela usasse apenas tênis de corrida. A orientação foi seguida por um tempo, mas Sabrina começou a ficar incomodada com a falta de opção.

“Fui até um sapateiro aqui do centro e customizei um sapato e uma sandália bem confortáveis, que melhoraram minha dor. Meu marido achou legal e colocamos foto no Facebook”, afirma a empreendedora. Após a postagem, alguns amigos do casal perguntaram se eles também vendiam sapatos customizados. Dessa consulta até abrir a Sapatos da Sá foi apenas um passo.

Os clientes da loja online são, em geral, mulheres, mas também há modelos unissex. “Descobrimos que existe demanda, especialmente de pessoas com diabetes, que têm os pés inchados, ou daqueles com um pé maior que o outro”, diz Sabrina.

Para fazer uma compra na Sapatos da Sá, é só entrar em contato pelo Instagram @sapatosdasa e explicar o que gostaria de encomendar. Em seguida, é preciso tirar as medidas dos pés, seguindo as explicações de um tutorial no Youtube.

A confecção é terceirizada com um sapateiro que se tornou parceiro da empreendedora. Ela conta que o trabalho é bem artesanal e não é feito em grande escala. Por isso, seu negócio principal, que mais contribui para a renda mensal, continua sendo a loja de roupas.

Hoje, Sabrina toca a Solenzara e a Sapatos da Sá, tem 10 funcionários e uma rotina ainda corrida. Mas, com os filhos mais velhos, ela consegue conciliar melhor as múltiplas tarefas. As vendas da loja de roupas, que caíram com a crise, ainda não voltaram para o mesmo nível dos anos de ouro. No entanto, melhoraram bastante com a ajuda de algumas estratégias, como o início das vendas por WhatsApp, envio de malinhas com roupas para as clientes que não podem ir até a loja e a abertura da conta @solenzaramoda no Instagram.

“A minha geração costuma achar que rede social é algo supérfluo, mas não é. Minha vida melhorou muito com o Instagram. Hoje, se fosse abrir uma loja de roupas, não teria um ponto fixo, custoso. Venderia só pela rede social”, afirma a empreendedora.

Além de divulgar a marca, Sabrina usa a página para postar stories diários com dicas de moda e informações sobre proporção corporal, dizendo o que cai bem em cada tipo de corpo. “O meu conhecimento técnico em moda, e até em arquitetura, me ajudaram a ter esse diferencial. Eu não falo só com mulheres altas e magras. Falo com todo tipo de mulher”, diz ela.

Para o futuro, Sabrina diz que não pretende abrir mais lojas. Ela quer se dedicar a aumentar as vendas, deixar o caixa do negócio um pouco mais confortável e ter mais funcionários. “Quero mais margem, mais conforto. Hoje, trabalhamos com 10 pessoas. Quero contratar mais e gerar emprego.” Se a economia ajudar, inspiração é algo que, definitivamente, não vai faltar para a empreendedora.

[contact-form-7 id="40318" title="Informações úteis"]
Agradecemos pelo seu feedback!