Empreender pode ser um doce negócio

Por Redação Azulis

A empresária Ângela Pereira largou 30 anos de carreira corporativa em grandes bancos e multinacionais para se dedicar a algo que ama: vender chocolates

Dona de duas franquias Cacau Show, ela conta toda a longa trajetória até o primeiro negócio e dá dicas preciosas para quem está começando

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De 2013 para cá, a vida da administradora Ângela Pereira, 53 anos, mudou da água para o vinho – ou melhor, para o chocolate. Depois de 30 anos trabalhando em grandes empresas, ela decidiu que era hora de ser dona do próprio negócio. O coração de chocólatra falou mais alto e chamou a atenção dela para uma franquia que estava fazendo sucesso: a Cacau Show – empresa de alimentos criada por Alexandre Costa.

Mas não foi somente a paixão pelo doce que guiou a empreendedora. Havia uma justificativa de mercado. Segundo dados da consultoria Euromonitor, o Brasil produziu 671 mil toneladas de chocolates, que movimentaram R$ 13,3 bilhões em 2018. Nas datas comemorativas, como Natal, Páscoa, Dia das Mães e Dia dos Namorados, as vendas vão lá em cima.

“Cada loja da franquia tem seu perfil. A minha vende bastante presente. Por isso, mesmo com a crise, eu nunca deixei de crescer. Eu faço boas datas ”, diz Ângela, que tem duas franquias da Cacau Show, uma na Vila Nova Conceição e outra em Moema, bairros nobres da cidade de São Paulo.

(Foto: Rafael Cusato/reprodução)
(Foto: Rafael Cusato/reprodução)

Ter o próprio negócio, contudo, não foi uma escolha simples. Ângela conta que começou a trabalhar muito cedo, com apenas 14 anos de idade. Ela sempre teve veia empreendedora, mas, por força das circunstâncias, acabou se formando em administração e seguindo carreira corporativa. Foram 3 décadas em cargos de gestão de grandes bancos e empresas do País.

Vez ou outra, o espírito empreendedor falava mais alto e ela testava algum pequeno negócio. Um desses “testes” aconteceu quando saiu do emprego no Unibanco, em 1999, e ficou 20 dias desempregada. “Eu tenho pânico de ficar sem trabalhar. Como era Páscoa, fiz um curso de um dia para aprender a fazer ovos de chocolate e fui vender na porta da escola do meu filho. Vendi tudo”, diz. O ramo de alimentos já era o preferido.

Outro episódio de empreendedorismo aconteceu no Carnaval de 2003. Ângela aproveitou o feriado na praia com o filho e um amigo dele para vender yakisobas. “Eu tinha aprendido a receita e quis ver se as pessoas comprariam. Fez muito sucesso, mas foi só um experimento”, afirma ela.

Mesmo com as experiências positivas ao longo da vida, deixar a carreira corporativa para empreender não era uma opção. Como precisava manter a casa, sustentar o filho e ajudar a mãe com as despesas, Ângela tinha medo do faltar dinheiro no fim do mês. A instabilidade comum do pequeno negócio, especialmente nos primeiros anos, assustava.

Hora de ter uma vida de dona

A oportunidade de começar, enfim, uma vida de dona só chegou em 2012. Alguns anos antes, Ângela saiu de um cargo no banco Itaú, atual Itaú Unibanco, para organizar o serviço de atendimento ao cliente (SAC) de uma empresa de hardware e software. O problema foi rapidamente resolvido e ela começou a atuar em outras funções que não tinham tanto a ver com sua experiência profissional. De lá, ainda trabalhou dois anos em uma startup, a convite do antigo chefe, mas percebeu que não estava feliz. Era hora de mudar.

“Fiquei pensando se queria voltar para o mundo corporativo, mas estava cansada. Então comecei a cogitar a ideia de abrir um negócio. O problema é que eu tinha 47 anos e uma casa para sustentar. Não podia arriscar tanto assim”, conta Ângela.

A saída encontrada pela empreendedora foi partir para o mundo das franquias. Por serem negócios já prontos, com marca consolidada e modelo de gestão definido, ela entendeu que os riscos de o empreendimento não dar certo seriam menores. Além do que, a empresária já tinha um vasto conhecimento em administração acumulado ao longo da carreira. Por isso, tocar o dia a dia da empresa não seria problema.

Ângela sabia que queria algo no ramo de alimentação, moda ou cosméticos, mas não sabia exatamente que produto ou serviço poderia oferecer. Para obter informações, começou a frequentar feiras de franquias, estudou o site da Associação Brasileira de Franquias (ABF) e conversou com pessoas que tinham esse tipo de negócio. O passo seguinte foi selecionar as marcas mais interessantes e entrar nos sites para se inscrever como franqueada.

Para sua surpresa, a maioria das empresas sequer respondeu seu cadastro ou tentativas de contato. A única que chamou a atenção da empresária por ter um fluxo bom de comunicação e atendimento foi a Cacau Show.

“Achei que era o melhor modelo de negócio. Eles realmente cumpriam o que diziam no passo-a-passo. E era uma franquia que estava crescendo. Além do que, eu quase não gosto de chocolate, né?”, diz a empresária, em tom de brincadeira, mostrando algumas embalagens de chocolate vazias, que ela havia acabado de comer, no balcão.

Ângela mandou os documentos necessários para ser uma franqueada e foi aprovada. O próximo passo seria encontrar um imóvel. Para sugerir um ponto comercial à Cacau Show, é preciso fazer um estudo detalhado do local, informando até mesmo quantas pessoas passam por ele diariamente. A empresária estava estudando as possibilidades, quando recebeu a indicação de assumir uma loja no bairro da Vila Nova Conceição, em São Paulo. A loja já existia há um tempo, mas não estava bem.

“Fui lá e andei na rua para ver o movimento. Observei o atendimento para ver o que tinha de errado e vi que era péssimo. Havia um problema de gestão grave ali. Então decidi que queria aquela loja”, conta ela, que tinha o capital necessário para iniciar o negócio, cerca de R$ 130 mil, e estava confiante.

A escolha da franquia

No começo de 2013, a empreendedora assumiu sua primeira loja. Enfim, o sonho de ter o próprio negócio estava se tornando realidade. Os primeiros meses foram de muita transpiração. Ela fez uma repaginação total, reformou o imóvel, mudou o layout e treinou bem as funcionárias para melhorar o atendimento.

Por ser uma franquia, tudo teve de seguir os padrões da marca: móveis, planta do local, sistemas de gestão de estoque. A mesma regra vale para a compra de chocolates e outros produtos. Todos os bombons, ovos, cestas, canecas, cartões, bichinhos de pelúcia são comprados exclusivamente da Cacau Show.

Mesmo sem ter muita liberdade, a empreendedora conseguiu ter jogo de cintura e fazer o negócio crescer. O resultado bom a deixou mais confiante para assumir uma segunda loja, em 2014, desta vez no bairro de Moema. O que ela não esperava, contudo, é que na mesma época o contrato com a franqueadora ficaria ainda mais duro. Ângela conta que a Cacau Show começou a “amarrar” suas vendas, tirando seu poder sobre a gestão do negócio. Em outras palavras, a loja só podia comprar determinados produtos se também comprasse certa quantidade de outros.

“Isso não é muito bom porque cada loja tem seu perfil. A minha vende bastante presente, mas a de metrô, por exemplo, vai vender mais tablete. A gente tem uma quantidade excessiva de produtos que competem entre si”, diz a administradora.

Quando a crise econômica chegou

Além do problema com o contrato da franquia, o negócio foi muito impactado pelos anos de crise econômica no País, que derrubaram as vendas. Com vários produtos estocados e um faturamento baixo, Ângela teve de usar a criatividade, participar de feiras, inaugurações e fazer promoções para tentar vender mais chocolates.

“Faço muito evento, posto coisas no Instagram, tenho lançamentos de marca. Vou lá com minha mesinha de chocolate e fico oferecendo. A pessoa come, gosta e então começa a frequentar a loja”, afirma ela.

As estratégias têm dado certo. Mesmo com as vendas baixas, a empreendedora conta que nunca deixou de crescer. Nos últimos dois anos, a expansão foi de cerca de 8% ao ano.

Ângela tem 6 funcionários que ajudam nas tarefas do dia a dia, mas a administração do negócio fica toda por conta dela. A empresária diz que faz as próprias planilhas para ter controle do setor financeiro, acompanha as compras, as vendas e todos os assuntos relacionamentos ao pessoal que trabalha na loja. Ela também organizou uma forma de ter controle dos vencimentos dos produtos e treinou muito bem a equipe. Essa foi a maneira que encontrou de ter um braço direito na hora de tocar o negócio.

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Ângela (à dir.) em sua loja Cacau Show

“Quando alguém erra, eu peço para me contar. Porque eu quero ver por que ela errou. Em algum lugar, o processo está falho”, diz a empreendedora, que não pensa em abrir novas unidades da Cacau Show, especialmente porque já entendeu bem as dificuldades de um franqueado. A ideia é aumentar as vendas para que as lojas continuem em destaque entre todas as da marca.

Dicas para quem está começando

A primeira dica de Ângela é estudar muito bem o seu mercado e se dedicar de corpo e alma. “Vá no Sebrae, ande na rua e pergunte para todo mundo. Entenda o seu negócio. Onde você estiver, dedique-se de corpo e alma. Esse conhecimento é seu, ninguém vai tirar”, diz ela.

O segundo conselho é não colocar todo o dinheiro que tiver na empresa. A maior parte dos negócios demora para decolar. Enquanto isso, é preciso ter uma reserva para pagar suas contas pessoais em tempos de vacas magras.

A última dica, e talvez a mais importante de todas, é aquela que vem do coração: na hora de escolher com o que trabalhar, pense em algo que você terá prazer em fazer todos os dias da sua vida.

“Imagina se eu não gostasse de chocolate? Eu sou chocólatra, o que também é um perigo, porque quero comer o estoque inteiro. Mas tem de ter uma identificação e trabalhar com o que ama”, afirma ela.

Embora Ângela tenha sido guiada pela paixão na sua vida de empreendedora, ela não deixou de lado a razão para pesquisar, estudar e avaliar uma boa oportunidade de negócio.

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