Quando tudo deu errado, ela virou o jogo e apostou na venda de canecas artesanais

Por Isabela Borrelli

Depois do projeto que liderava há mais de quatro anos fechar, Gabriela Mori teve que procurar uma nova paixão, que ela encontrou na produção e venda de canecas artesanais

Gabi com uma mesa cheia de canecas feitas por ela

Em 2015, conheci a Gabriela Mori ao estagiar no TaoFeminino, portal de comportamento feminino do grupo francês AuFeminin. Fazia pouco mais de um ano que ela havia trazido o projeto para o Brasil e, além de ser a responsável pelo negócio como gerente de produto, ela também era a analista de SEO do site.

Dois anos depois, o grupo francês foi vendido e a nova direção decidiu fechar os negócios que não estavam dando resultado, sendo que um deles foi o TaoFeminino, no ar desde o fim de 2013.

“Foram 4 anos de site, mas a matriz não conseguiu achar um modelo de negócio que  fizesse sentido. Eles tentaram empurrar goela abaixo um modelo que já não estava dando muito certo na Europa”, diz Gabriela, especialista de marketing digital.

O fechamento do projeto foi mais que um banho de água fria. Gabriela teve que superar uma depressão e decidiu tirar um período sabático para cuidar de si mesma. Além disso, queria passar mais tempo com sua filha, Manuela, que na época tinha 4 anos.

Ao longo dos meses seguintes, ela se reaproximou do seu lado artístico,  que era muito presente na infância, mas acabou ficando em segundo plano com o passar dos anos. Foi quando Gabriela se deparou com uma caneca escrita à mão em uma loja e a ideia de unir o útil ao agradável surgiu: criar designs originais e vender canecas.

Uma caneca por vez: começando o negócio

A arte pode até ter sido um hobby para Gabriela durante toda a sua vida, mas quando decidiu empreender, sabia que aquilo era um negócio a ser levado a sério. Não é para menos: a produção de artesanato é um mercado que movimenta R$ 50 bilhões por ano no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A empreendedora investiu inicialmente R$ 500, que ela tirou da rescisão, para comprar uma caixa de canecas e canetas específicas para porcelana. Ela apostou nas tipografias estilizadas e sacadas bem humoradas como diferencial, mas só de olhar as fotos das canecas não é possível ter noção do trabalho que dá.

Foto: Lila Batista

A porcelana é um material muito liso de se trabalhar e Gabriela faz cada uma das ilustrações a mão. Para não errar e gastar uma caneca à toa, ela faz um decalque em papel, passa para a porcelana e, com as canetas específicas, finaliza a arte. Depois, ainda é preciso colocar as canecas no forno para fixar a ilustração, deixar esfriar e lavar cada uma na mão para tirar qualquer excesso de tinta.

Uma vez acostumada à prática, a empreendedora tirou as primeiras fotos e postou no Instagram, dando início oficial ao Canecas da Gabi, em janeiro de 2018. A primeira venda foi realizada só dois meses depois da criação da marca e da divulgação no Instagram. Em compensação, depois disso os negócios não pararam mais. “No começo, eu não vendia nem dez canecas por mês e estava com a precificação toda errada. Apesar de ser um negócio muito sazonal, por comprarem muito para presente, até o dia 20 deste mês [maio], por exemplo, vendi 40 peças”, diz ela.

Estratégias e parcerias

Para o negócio crescer, Gabriela aposta principalmente no Instagram. Na rede social, a empreendedora faz postagens diversas: desde fotos dos seus produtos até receitas de bolo de caneca, por exemplo. Em pouco mais de um ano, o perfil caminha para os 1.500 seguidores. Por mais que o número aparente ser baixo, a empreendedora se recusa a impulsionar as publicações para crescer de forma acelerada.

“Minha estratégia é não ir com muita sede ao pote. Prefiro crescer de forma orgânica, daí eu consigo dar atenção para todo mundo, responder e interagir com outras contas”, afirma Gabriela.

Interagir com o público é parte importante do negócio: no Stories, ela não só divulga eventos como também compartilha fotos de clientes usando as canecas, faz pesquisas de opinião e enquetes sobre novas estampas. Não é raro vê-la em vídeos e fotos da plataforma, especialmente nos próprios Stories, e engana-se quem acha que é porque ela gosta da exposição. Entre um teste e outro, ela descobriu que os clientes passaram a confiar mais na marca ao ver quem é a Gabi que faz as tais canecas.

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Mas não é só de Instagram que vive a loja: no fim de 2018, a empreendedora se inscreveu no projeto AmoFaçoVendo, da Zôdio, loja de decoração do grupo ADEO, e foi convidada a participar como usuária teste. Com o projeto, a Canecas da Gabi passou a ter um e-commerce onde ela vende as canecas e em troca é cobrada uma comissão de 15% por venda.

Foto: Mayara Potenza

O projeto também oferece oficinas de formação em negócios, além de ter ajudado a empreendedora a aumentar consideravelmente a sua rede de contatos. Por sinal, foi a partir de uma das colegas do AmoFaçoVendo que a Lobo Loja Colaborativa convidou-a para vender as canecas em um ponto de venda físico. Lá, Gabriela paga R$ 60 por mês pelo aluguel do espaço mais a taxa de 26% sobre cada venda. A empreendedora acredita que o investimento vale a pena: a Lobo é um centro criativo que tem como missão acolher artistas independentes, contando com uma espécie de curadoria, oficinas e mentoria.

Para se ter uma noção, o espaço difere consideravelmente da Endossa, loja colaborativa mais conhecida em São Paulo. Além da Endossa não contar com uma curadoria (é possível encontrar lojinhas de tipos e estilos completamente diferentes), o valor do aluguel é bem mais alto, a partir de R$ 140 dependendo da filial, e há uma meta mínima de vendas mensais de acordo com o tamanho do espaço escolhido, que começa em R$ 175. Caso não alcance essa meta nos três primeiros meses, a loja perde o lugar e é obrigada a deixar o espaço.

No geral, as parcerias estão dando certo para a Canecas da Gabi: por mais que as vendas não sejam consistentes, pela Lobo a empreendedora sente que está ganhando mais clientes, e pela Zôdio o fluxo de compra ficou mais seguro e muito mais fácil de ser gerenciado.

Apesar do crescimento, o negócio ainda não a sustenta. O dinheiro da rescisão, que ajudou a começar o negócio e a pagar as contas nos primeiros meses, acabou. O lucro das canecas é reinvestido no próprio negócio e consegue pagar contas pequenas, como diarista, van escolar para a filha e a feira da semana. O resto fica por conta do seu companheiro.

Caneca meio cheia... Ou caneca meio vazia?

Para chegar onde está hoje, Gabriela passou e ainda passa por algumas dificuldades. A primeira delas foi em relação à precificação dos produtos. “O maior desafio é ver quanto tempo leva para fazer uma peça e calcular um valor que seja proporcional. No começo, eu estava olhando muito para a concorrência e fazendo média de preço”, diz a empreendedora. Como resultado, ela caiu na armadilha em que muitos se encontram: por insegurança, não valorizou o próprio trabalho.

Foto: Mayara Potenza

Mais tarde, ela reavaliou o tempo que levava para fazer cada peça e decidiu refazer as contas. As canecas grandes, de 300 ml, antes eram vendidas por R$ 25, independentemente de serem um modelo padrão ou personalizado. Hoje, a peça padrão custa R$ 38, e a personalizada, R$ 50. Quanto à insegurança? Gabriela também a reavaliou.

“Eu não tenho medo de colocar o preço correto mesmo que pareça alto. Tudo depende de como você comunica o seu trabalho. Acho que não tem preço ajudar empreendedores locais e mulheres que são mães”, diz a dona da Canecas da Gabi.

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Outro problema que já deu muita dor de cabeça para a empreendedora é a cópia de suas fotos e artes. Pesquisando, ela achou lojas online com canecas com as mesmas estampas que as suas e outras com as fotos que ela tinha tirado. Para resolver o problema, Gabriela aprendeu a duras penas que não dá para postar fotos de produtos sem marca d’água e, se ela acha alguma foto copiada, denuncia na plataforma em questão.

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Escalar, personalizar ou ensinar: eis a questão

Hoje, Gabriela pensa no futuro. Mesmo a maioria das encomendas vindo de canecas personalizadas, a empreendedora sonha em fazer algumas mudanças. “Estou vendo se dá para imprimir em algum lugar as estampas. Gostaria de emplacar mais os meus próprios modelos, mas gostaria de escalar sem trazer muitos danos para a marca”, afirma ela.

Como boa empreendedora, ela não olha só para a fabricação de canecas em si. Gabriela também percebeu um interesse muito grande das pessoas em aprender como fazer as próprias canecas. Pensado nisso, considera dar aulas para quem tem interesse pela atividade como hobbie, uma vez que ela desenvolveu as técnicas sozinha e não veria problema em ensinar outros.

Quer empreender? A Gabi dá algumas dicas!

– Tenha o pé no chão: saiba que vão existir dificuldades e muitos obstáculos, mas é preciso acreditar no seu negócio. Caso contrário, nem gaste seu tempo e encerre.

– Tenha estrutura: organize-se financeiramente e em relação aos seus recursos. Planeje como será o ano inteiro para saber o que esperar.

– Leve seu negócio a sério: tem que começar já sabendo que é um negócio, que é preciso fazer conta, fluxo de caixa, e pensar se precisa ou não ir atrás de financiamento.

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