Ex-CEO de multinacional aposta em franquias da Subway para mudar de vida

Por Fernanda Santos

Cláudio Tragueta estava cansado da vida estressante de CEO e resolveu empreender ao lado da esposa. Hoje, eles tem quatro lojas de franquias, incluindo três unidades da Subway

Os planos de crescimento do casal são ambiciosos, mas a crise econômica do País trouxe desafios que eles não estavam esperando

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Cláudio Tragueta, de 49 anos, e sua esposa Mayumi tinham a história de sucesso que muita gente quer ter. Ele, engenheiro de formação, era CEO de uma multinacional com mais de 2 mil funcionários. Ela, servidora do Tribunal de Justiça de São Paulo, encontrou no cargo público estabilidade na carreira. Tudo estaria perfeito para o casal de São Paulo, se não fosse por um motivo: eles não estavam felizes.

“A minha vida de executivo não era fácil, a cobrança estava muito grande. Eu queria fazer alguma coisa para ter liberdade, criar minhas regras, por isso decidi empreender”, afirma Tragueta, que hoje é franqueado de três lojas da Subway e uma unidade Casa Bauducco.

O executivo tinha longa experiência com grandes empresas e entendia bastante da gestão de negócios. Mayumi era da área de Recursos Humanos (RH) e tinha habilidade com gestão de pessoas. Mas nenhum dos dois sabia tocar um comércio. Por isso, optaram pelo setor de franquias. “Nesse modelo de negócio, bastante coisa vem mastigada: a arquitetura, estruturação, o produto que você vai vender. É um diferencial”, explica Tragueta. 

Fora a facilidade, os empreendedores estavam de olho no mercado. Em 2018, o setor de franquias cresceu 7% no Brasil e atingiu o faturamento recorde de R$ 170 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF). O destaque fica com as marcas de serviços e alimentação, como a Subway – franquia de sanduiches que tem mais de 43 mil lojas pelo mundo, está em 112 países e, em 2017, faturou US$ 17 bilhões.

Só no ano passado, a marca abriu mais de 100 lojas no Brasil e recebeu cerca de 900 milhões de clientes. Mas a crise tem impactado bastante o movimento dos franqueados.

O investimento não é dos mais baixos

Uma das barreiras para a abertura de uma franquia, muitas vezes, é o alto investimento. No caso da Subway, Tragueta gastou cerca de R$ 750 mil do próprio bolso em cada loja. Até existe um valor estimado para abrir uma unidade, mas é muito arriscado confiar nesse cálculo, diz o empreendedor. O motivo são os imprevistos, como reformas, ou os gastos variáveis, como ponto comercial, que jogam o número lá em cima.

Para evitar surpresas, o casal ficou de 2005 a 2009 estudando negócios de diferentes ramos tanto no País, como no exterior. Antes de decidir, eles visitaram feiras, conversaram com muitas franqueados, reuniram números, fizeram contas e compilaram tudo em planilhas. Ainda assim, gastaram o dobro do que estava estimado no começo.

“Previsão nunca funciona. As variáveis são muitas e incontroláveis. Eu sempre indico ter o dobro do investimento previsto, para não haver surpresas que possam comprometer o negócio”, afirma Cláudio Tragueta.

Quando começou a vida de dono

Claudio Tragueta
Cláudio Tragueta tem 3 lojas da Subway

Em 2010, o casal inaugurou sua primeira loja da Subway, que ficava no shopping União, em Osasco (SP). A princípio, nenhum dos dois deixou o emprego fixo para empreender. “Só saímos quando as empresas superaram nossos empregos financeiramente. Empreender era projeto de vida, mas continuei como executivo até ter certeza que daria certo”, diz o empresário.

E deu certo. Com a primeira loja faturando legal, os empreendedores partiram para a segunda e definiram que abririam uma unidade por ano até chegarem ao total de 15 lojas. Entre 2012 e 2013, ambos já haviam deixado os empregos fixos para se dedicar apenas ao próprio negócio.

O plano de crescimento funcionou até 2014, quando a crise econômica do País começou a afetar as vendas e levou o casal a puxar o freio do negócio. “Paramos de crescer para conseguir sobreviver. Posso dizer que de 2015 para cá ficamos no mesmo patamar”, afirma Tragueta.

Hoje, ele e Mayumi têm uma loja da Subway no Shopping União de Osasco (SP), uma no Shopping Interlados, em São Paulo, e uma no Shopping Atrium, em Santo André (ABC Paulista). Para diversificar os investimentos, em 2017, eles abriram também uma Casa Bauducco, café com produtos premium da marca Bauducco. O estabelecimento fica no Shopping Tatuapé, também em São Paulo, e está indo bem.

No total, as lojas têm 40 funcionários, incluindo um gerente para cada. Os empreendedores cuidam de toda a parte administrativa e passam ao menos uma vez por semana nas unidades para fazer reuniões e ajustes necessários. Misturar casamento e negócios é um desafio, mas Cláudio Tragueta afirma que o casal consegue conduzir bem.

“Trabalhar com a esposa tem seus pontos negativos, mas, em geral, funciona muito bem para nós. Nossas tarefas são bem definidas e separadas”, diz.

Relação com a Subway

Ao contrário de outras franquias, como a Cacau Show, que produz os chocolates e vende aos franqueados, a Subway não tem fábrica própria. O que a franqueadora faz é negociar preços com os fornecedores de alimentos, bebidas, embalagens, entre outros itens, para que fiquem mais vantajosos aos franqueados.

Os donos das lojas não têm a opção de escolher de quem comprar – precisam seguir a indicação da marca. Além disso, quem tem interesse em abrir uma franquia precisa saber que as questões administrativas da loja ficam inteiramente sob responsabilidade do franqueado – toda a parte fiscal, tributária, trabalhista, demissão e admissão dos funcionários. “Minha experiência com gestão de empresas ajudou muito”, afirma Tragueta.

Os desafios da crise

Mesmo tendo desacelerado os investimentos, a crise ainda é o maior desafio do casal. O Brasil tem hoje 13 milhões de desempregados, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Esses brasileiros, e tantos outros que estão com o orçamento apertado, mudaram bastante seus hábitos de consumo, cortando gastos não essenciais como alimentação na rua. Além disso, o dinheiro das pessoas parece estar durando menos. “Antes elas ficavam sem dinheiro no final do mês. Agora, no meio do mês ele já acabaou”, explica o empresário.

Apesar das dificuldades, Cláudio Tragueta não se arrepende de ter escolhido a vida de dono e afirma que vai empreender mais, assim que a situação econômica melhorar. A estratégia é diversificar.

“O pensamento de hoje é diversificar o investimento. Quando você tem outras marcas, dilui alguns riscos. Se um negócio entra em crise, você se sustenta com o que está bem. Um segura o outro”, diz o franqueado da Subway e da Casa Bauducco.